sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Abandono




Deixou-o só, a vida.  Apenas lhe concede pequenos prazeres a que a solidão não retira o gosto. Depois de uma merenda tão pobre como ele, um cigarrito enrolado à mão. Umas fumaças e o resto do vinho dão ânimo para o regresso ao trabalho.
A boina basca, com que se protege de sol e de  chuva, parece inútil naquela interioridade de desconforto. Talvez lhe abafe os pensamentos tristes, as recordações sofridas. O cigarro, esse, aquece-lhe a alma. Como a lareira em Invernos geadeiros a aquecer-lhe os pés com que enfrentará a frialdade de um leito vazio.


                                                               Impregna meu ninho
                                      cheiro a ausência:
                                      abandono.

                                                                           in Folhas em Flor

Vila Real, 01 de dezembro
M. Hercília  Agarez 

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