sábado, 8 de fevereiro de 2014

Ainda a Cheia de 1962





Uma bela imagem da grande cheia do rio Douro de 1962 nas principais ruas da cidade de Peso da Régua. Na cidade da Régua, são consideradas cheias grandes as que inundam a Avenida João Franco (que está à cota a 58 m), implicando uma subida do nível do rio em 13 metros de altura (caudal a 6 000 m3/s).
Essa cheia do rio de 1962, a segunda maior do século XX, (a maior cheia é de 1909 com um caudal de 16.700 m3/s) atingiu um caudal de 15.700 m3/s (cota 67,7 m), o equivalente a 23 metros de altura para além do nível médio do leito normal. Da grande aflição, com “horas de angústia” e “horas de terror”, vividas pelos reguenses nessa cheia do rio, temos um emocionante e doloroso relato feito nas páginas do jornal “Vida Por Vida”.
“Ainda não seriam 19 horas do primeiro dia do ano de 1962, quando os nossos bombeiros começaram a ser solicitados para prestarem o seu auxílio a diversas famílias que na nossa zona ribeirinha estavam a ser molestadas pela subida do rio Douro.
Desde essa hora, nunca mais os nossos bombeiros tiveram um minuto de descanso e o auge da tragédia veio a verificar-se perto da noite, pois cada vez mais era superior o número de pedidos, que os nossos briosos Soldados da Paz eram impotentes para poderem atender. Duas vezes e com angústia se ouviu o toque da sirene para alertar toda a população e os trabalhos iam sempre decorrendo debaixo de um temporal e de uma preocupação constante.
Os telefonemas sucediam-se para diversos locais a pedir informações sobre os aumentos verificados no caudal do nosso rio e todas as notícias eram o mais assustadoras que se podiam imaginar.
Cônscio da gravidade da situação, eis que o Comando da Corporação delibera pedir a colaboração das Corporações vizinhas (…).Surgiram já no meio da manhã do dia 2 de Janeiro e o seu trabalho também não poderá ser esquecido. Vila Real, Lamego e Armamar, nos diversos locais onde trabalharam, deixaram a certeza de que estavam connosco e só havia um fim: salvar as vidas e haveres de tantos reguenses que se encontravam em perigo.
Tão cedo não se apagará da memória de todos nós tão grave tragédia que, felizmente, não teve a registar qualquer perda de vidas. (…) há a realçar a valentia dos infatigáveis bombeiros que, já na noite desse segundo dia, com risco das suas próprias vidas, salvaram diversos homens numa casa na Rua da Alegria, um casal de velhinhos no Salgueiral, e de morte certa, duas famílias no Juncal de Baixo, pois que estas, após terem sido retiradas, viam as suas pobres casas serem arrasadas pela fúria crescente do rio Douro.”
Estes são os maus momentos das páginas do nosso rio Douro, que ciclicamente se repetem, mas que de volta às suas margens, que crescem por belos e imponentes socalcos de vinhas, se torna num dos elementos mais belos do espaço cénico da cidade de Peso da Régua.

José Alfredo Almeida

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